Eu escrevo desde que aprendi a formar sílabas. Mamãe diz que eu escrevia até quando eu rabiscava cores e formas.
A solidão que meu eu criança sentia, amenizou o arder da alma quando passei a juntar letras, foram minha melhor companhia. Quando vogais e consoantes estavam juntas, falavam por mim sem que eu precisasse emitir qualquer som. E os livros eram o meu único meio de transporte enquanto exorcizavam minha existência.
Compartilhar meus escritos nunca foi um desejo, eu só queria escrever o que estava inundando minha mente. O fluxo contínuo de pensamentos muitas vezes não permitia que eu fosse uma garota normal, quando eles escapuliam pela minha boca sempre me colocavam em enrascadas inimagináveis. Colocá-los no papel era um alívio. Eu escrevia, escrevia e escrevia até à exaustão, depois flutuava, esperando os minutos em que tudo se repetiria.
Quando eu guardava frases inteiras dentro de mim, era como implodir com feridas abertas e sangrar onde ninguém via; meu eu de dentro, ossos, veias e coração pulsante, paralisavam seu funcionamento, como um aviso de que eu precisava descarregar nas folhas em branco minha sujeira, afeto, confusão, luz e escuridão.
Criar histórias sobre mundos fantásticos e felizes não foi o que a vida me moldou para contar. Como ser errante que sou, andei nessa estrada de flores e finais felizes por um tempo, mas não era eu com o lápis na mão, era alguém de máscara em um baile de carnaval.
Eu sou feita de dor, coberta de remendos com cicatrizes antigas e novas. Meu sangue ferve com o feio e meu estômago borbulha com pequenos delitos.
Eu quero falar da moça violada e da velha ranzinza, do ateu sem alma e do que tem a pele coberta de cicatrizes grotescas. Quero explorar o ordinário, o esquecido, o invisível. Falar por quem não tem voz, nem ouvidos. Dizer o que ninguém quer ouvir… Minhas palavras são para eles, é como quero existir.
Enquanto eu for agonia, palavras brotarão de mim.
✍🏻: Lilli Dantas
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