Quando meu coração está partido e sinto dores profundas a ponto de não conseguir respirar, eu escrevo.
De início, as palavras saem como lâminas afiadas, cortantes e espinhosas, endurecidas de sarcasmo e vomitadas ironicamente.
Após excitação pacata, exaurida em meio a papéis manchados do famoso líquido conhecido como lágrima, que escorrem quando esqueci como formar sílabas no meu emaranhado particular de lamentos e pedidos de socorro, desmorono, como se fosse feita de dor e últimas palavras.
1, 2, 3, 4... 4, 3, 2, 1... inflando e desinflando meus pulmões, e ainda sem conseguir respirar, escrevo quando sinto o hálito nos meus ombros, por apenas um momento, eles estão lá. Reconheço a presença em eco. Desfaço-me com a mesma delicadeza que os monstros escondem-se debaixo da cama. Meus dedos estremecem sobre o papel antes de paralisarem em tormento. Sou uma embalagem para presente de tortura, com estampa de aflição, laço colorido de agonia, etiqueta de angústia, um pacote de sofrimento.
Feridas expostas de alguém que implodiu e desaprendeu a sentir sozinha. Sem escolhas, uma confusão pública quando eu deveria ser minha.
Em meio a estilhaços e poças de sangue, sentindo o ínfimo de ser nada, impotente, ergo os braços até minhas veias e músculos esticarem a seu ápice, mas não consigo alcançá-lo. Luzes apagadas, linhas quebradas, ansiando tocar o desconhecido. Em silêncio, de olhos fechados, pego estradas que me levam a lugares obscuros, decido viver mentiras honestas e assim enganar a lucidez da minha mente.
Quebrada. De toques repleto de nãos, do júbilo espalhado, olhar enojado, discurso ensaiado.
Exaurida, após perder as peças de todas que sou, rasgo e descarto mais um papel manchado de lágrimas que abriga o quebra-cabeça de verdades nunca compartilhadas.
Meu e delas, mas continuamos a jogar sozinhas.
✍🏻: Lili Dantas
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